Buenos Aires, 26 de janeiro de 2020
Rabiscos do 1º semestre do Mestrado
De tempos em tempos passamos por alguns acontecimentos que se tornam divisores de águas
em nossas vidas. Como Heraclito, sociólogo pré-socrático disse uma vez: Nada é eterno apenas a
mudança. Compreendo que a mudança realmente é assustadora, provoca insegurança e até medo,
porém muita das vezes é a única ou melhor opção.Às vezes o medo de mudar é tão cruel que nos
obriga a fixarmos âncoras em situações e ambientes não confortáveis por acharmos que se for
diferente pode ser pior. Mas qual seria a melhor opção? Mergulhar rumo ao desconhecido e desfrutar
de possíveis momentos extraordinários, ou simplesmente aceitar viver na mesmice eterna?
Antes de mais nada, sou professora porém esse texto é uma escrita totalmente informal,
portanto espero de coração que você leitor, possa mergulhar na minha leitura sem analisar a
semântica ou gramática da mesma, e compreender o que está sendo dito, como se eu mesma
estivesse contando ao vivo.
Vamos lá!Para quem me conhece sabe o quanto o ano de 2019 foi repleto de mudanças em
minha vida, mudanças que permiti que acontecessem de dentro para fora me levando a ter uma nova
concepção do ato de “viver”.Conclui minha graduação em Pedagogia em dezembro de 2017 e
mergulhei em três pós-graduações seguidas. Pensei em tirar um ano sabático em 2020, me afastando
dos estudos a fim de colocar alguns pensamentos em ordem, mas não teve jeito, vida de professor é
se aperfeiçoar a cada dia.
Para quem me conhece um pouco mais, compreende o quanto sou inimiga da rotina e uma
eterna amante de desafios e novidades. Gosto do que me motiva, do que cativa minha atenção e
dedicação. ‘Entonces’* após traçar várias caminhos, percebi que seria inviável fazer um mestrado em
minha região de maneira 100% presencial, resolvi em setembro de 2019 mergulhar em um desafio
completamente novo que foi fazer o mestrado na Argentina.
Os meses foram passando, eu trabalhando de 07h às 21:00 de seg a sexta , não tive nem
estrutura mental ou física para pegar em estudos. Ahhhhh... vale destacar que eu nunca havia tido
qualquer contato com a língua espanhola, ela nunca havia atraído minha atenção.
Depois de aproveitar uns dias de férias chegou o tão esperado dia, eu me vi no aeroporto
encarando minha segunda viagem na carreira solo. Um mix de sensação de medo com liberdade
indescritível, e um agravante enorme dessa vez: eu não sabia ao menos pedir ajuda em espanhol.
Eu já havia passado 6 dias na cidade em 2016, e aqui não é difícil de se locomover a cidade é
muito organizada e estruturada, mas decidi chegar dois dias antes das aulas a fim de identificar meus
trajetos, conhecer as possíveis opções de me alimentar e me familiarizar com a cultura local.
Não vou detalhar dia a dia, mas quis fazer um relato geral de como foram meus primeiros 13 dias
aqui. No primeiro dia de aula descobri que todos os alunos da minha classe eram brasileiros, isso me
deixou muito a vontade. Tive assim um privilégio enorme de conhecer uma das 100 pessoas que
existem no Acre, acreditem o Acre existe, e tem pessoas morando lá. E por incrível que pareça eu era
a única carioca da turma responsável por levar esse carisma maravilhoso que temos. Na verdade acho
que fui a responsável por trazer o sol na mochila também, porque aqui tiveram dias de fazer 36ºC. 😰😰😰 Que sofrência!
Passei por momentos onde quis chutar o balde e ir de ecobike direto para o Rio de Janeiro. Mas
Deus cuida de cada detalhe, colocou pessoas fofas ao meu lado para me ajudarem enfrentar a solidão
em país estrangeiro.
Tinha dias que eu só queria chegar no hostel chorar, mas até aqui eu conheci uns seres maravilhosos
que tem tornado meu desafio com o espanhol mais intenso e tem me ajudado sempre que possível. Ai
vai minha indicação ao 06 Central Hostel, localizado na região mais movimentada de Buenos Aires.
‘Sin embargo’ nada nesse mundo substitui o abraço e calor de estar ao lado de quem amamos.
Conheci pessoas novas, de outras culturas, novas comidas e obtive uma vasta surra de idiomas das
meninas que entravam e saiam do meu quarto. As vezes era meio desesperador, outras vezes eu via
que mais uma vez deus colocou anjinhos para dormir ao meu lado.
Dentre todas as minhas lindas experiências até hoje, tenho uma que me marcou muito. Uma
francesa que chegou no “meu quarto” e eu fui tentar usar meu inglês mega enferrujado para me comu-
nicar com ela. Após inúmeras tentativas sem muito sucesso, resolvi usar as tecnologias para me ajudar
nesse processo, um aplicativo maaaaaravilhoso que traduzia minha voz para o idioma dela e vice-versa.
Mantivemos um papo de 1 hora, trocamos likes nas redes sociais, ‘sacamos una foto’, falamos
sobre nossas vidas, profissão, nossos gostos... Até sair marcamos, mas infelizmente não conseguimos
devido a minha correria nos estudos. Isso me fez compreender que o impossível é apenas aquilo que
não tentamos e quando queremos algo, cabe a nós mesmos fazermos acontecer. Foi uma amizade legal
que fizemos sem trocar palavras diretamente, ‘pero’ conseguimos falar com o coração e com a alma.
Outra situação que acho legal citar foi a minha recepção na faculdade, que professora maravilhosa!
Uma Dra, professora de universidade que calçou a sandália da humildade por uma geração inteira. Tem
uma frase de autor desconhecido que eu gosto muito: Se o aluno não aprende da maneira na qual você
ensina, talvez você possa ensiná-lo de maneira que ele aprenda. E foi exatamente isso que ela fez. Ela
tentava misturar espanhol, inglês e português para nos alcançar. Isso me marcou muito.
Bom, por hora é só isso. Aos poucos vou escrever algumas coisas inusitadas que acontecem ‘acá’.